LUANA FERREIRA DA SILVA MAZULO
PONTÍFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO
2010
A presença de mulheres nos mais diferentes espaços da sociedade brasileira é, sem dúvida, uma conquista recente. Foi apenas a partir da segunda metade do século XX que foram abertas as portas para uma série de atividades que antes a população feminina não tinha acesso. Com a entrada da mulheres no mundo do trabalho, foi inevitável que elas ocupassem cargos que originalmente eram exclusivos do universo masculino. Entre eles as instituições militares. O Exército foi a última Força Armada no Brasil a permitir o ingresso das mulheres em suas fileiras, que ocorreu em 1992, doze anos após a pioneira Marinha formar sua primeira turma. Hoje é possível encontrá-las na caserna desempenhando várias funções não só em quartéis-generais ou unidades de saúde, mas também (ainda que em número bem reduzido) em organizações militares operacionais e em missões de operações de paz. Nesse sentido, com a presente pesquisa objetivou-se desenvolver um estudo que apreendesse como são construídas as relações de poder em um determinado efetivo do Exército Brasileiro a partir da inserção das mulheres no Quadro Complementar de Oficiais na Escola de Administração do Exército e analisar, a partir dessas relações, em que condições ocorre a atuação dessas profissionais. Nesse contexto, destacamos a importância em reconhecer os aspectos que fundamentam a cultura própria das instituições militares, considerando, essencialmente, a hierarquia e a disciplina como valores fundamentais que permeiam o universo militar tanto do ponto de vista da organização interna da instituição quanto da ótica de interação social vivenciados entre os militares que a compõem. Participaram da pesquisa cinco militares do segmento feminino, distribuídas em níveis hierárquicos aleatórios pertencentes ao quadro técnico de uma Organização Militar localizada na cidade do Rio de Janeiro e subordinada ao Comando Militar do Leste. Tendo em vista as características peculiares das instituições militares com seus pilares de sustentação galgados na disciplina e na hierarquia, optou-se por manter o anonimato da Organização Militar escolhida, uma vez que poderiam ocorrer conflitos entre a garantia de uma postura ética de liberdade de pesquisar e a necessidade de manter procedimentos considerados apropriados, principalmente no que diz respeito ao sigilo na participação das colaboradoras da pesquisa. Quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa optou-se por uma pesquisa qualitativa onde os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a pesquisa bibliográfica, a entrevista semiestruturada e a observação participante. As análise dos dados apontaram para o fato de que, apesar da existência de regulamentos que garantem a igualdade no tratamento para ambos os sexos, as estruturas subjetivas formada pelos princípios institucionais influenciam os sistemas de diferenciação no discurso de seus membros, reforçando assim a formação de “guetos” masculinos e femininos de ocupação, perpetuando a idéia de perfis distintos: o necessariamente masculinizado para o profissional militar combatente e o perfil para o profissional militar técnico.
Palavras-chave: Exército brasileiro; Gênero; Relações de poder.