WILLIAM GUALBERTO GONÇALVES DE SOUZA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
2020
A compreensão a respeito dos fatores de risco que condicionam o envolvimento com atos
infracionais demonstra ser um importante passo tanto no desenvolvimento de ações
preventivas, como também na estruturação de programas de atendimento ao adolescente que
cometeu um ato infracional. Os relacionamentos amorosos têm sido descritos com um fator de
risco, em especial, para o envolvimento feminino com atos infracionais. Por tal motivo, a
presente dissertação buscou analisar os impactos do relacionamento amoroso na trajetória de
vida e no cumprimento da medida socioeducativa de internação de adolescentes do sexo
feminino. Para o cumprimento deste objetivo realizou-se revisão narrativa da literatura
científica e pesquisa empírica. A pesquisa empírica foi conduzida em uma unidade de
internação mista. Os dados foram estruturados por uma metodologia qualitativa composta por
dois métodos: estudo de caso múltiplos e inserção ecológica. Os dados coletados foram
analisados por meio da análise temática. O capítulo 1 consiste em uma revisão narrativa da
literatura científica e aborda os fatores do relacionamento amoroso que condicionam risco ou
proteção ao envolvimento com atos infracionais bem como o impacto do relacionamento
amoroso no cumprimento de medida socioeducativa. Os estudos científicos apontaram que o
público feminino estaria mais vulnerável a vivenciar experiências no namoro que ocasionam
risco para envolvimento com atos infracionais. Além disso, houve mais registros de que seria
o público masculino quem teria mais benefícios do relacionamento amoroso sobre o
cumprimento de medida socioeducativa. O capítulo 2 teve por objetivo analisar aspectos de
vida e do relacionamento amoroso de adolescentes em medida socioeducativa de internação
que foram apreendidas com seus parceiros, a fim de compreender mecanismos que
ocasionariam risco. Os dados da pesquisa foram provenientes de entrevistas narrativas
realizadas com 3 adolescentes, indicadores da inserção ecológica foram utilizados para
validação das interpretações a respeito das entrevistas. A lente interpretativa foi a Teoria do
Apego. Observou-se que a fuga do lar foi um evento central para o envolvimento das
adolescentes com atos infracionais, sendo que o relacionamento amoroso figurou como
motivador ou mantenedor da distância do lar. Subjacente a esse fenômeno, foi possível
observar que a história de vida das adolescentes já carregava eventos com potencial de
fragilizar os vínculos familiares, sem que tivessem recebido atenção de aparelhos e serviços
estatais para essa demanda. O capítulo 3 foca em compreender como se manifesta a violência
em relacionamentos amorosos de adolescentes que estão em cumprimento de medida
socioeducativa de internação. Os dados empíricos foram provenientes da realização de
inserção ecológica. A inserção ecológica é um método de pesquisa e intervenção com enfoque
no desenvolvimento humano sistêmico e contextual a partir da imersão no contexto. Para sua
consecução o pesquisador passou cerca de 100h no campo de pesquisa, divididas em 32
visitas, as quais cobriram cerca de 4 meses. Houve o contato sistemático com 25 pessoas (14
adolescentes e 11 servidoras) durante a pesquisa. A lente interpretativa foi a Teoria
Bioecológica do Desenvolvimento Humano. Os dados apontaram que a violência cumpre com
várias funções no relacionamento e afeta o desenvolvimento de competências psicossociais. A
unidade não dispunha de intervenção sistemática que abordasse prevenção à violência no
namoro, apesar de relacionamentos amorosos aparecerem como um componente do projeto de
vida das adolescentes. Novos estudos podem se dedicar a analisar mecanismos que facilitam a
transição para relações amorosas não violentas. Além disso, avalia-se por pertinente
aprofundar o conhecimento sobre o impacto de produtos culturais sobre as expectativas frente
ao relacionamento amoroso de adolescentes do sexo feminino que se envolveram com atos
infracionais. Por fim, compreende-se que: a prevenção de atos infracionais deve ser
promovida pela garantia de direitos e de vida digna; e que as relações de gênero precisam
constar como tema transversal dentro da política pública de socioeducação.
Palavras-chave: Relacionamento amoroso, Adolescência, Gênero, Socioeducação.