ANA JANAINA ALVES DE SOUZA
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
2007
Esta dissertação analisa a obra do escritor francês Raymond Roussel, tendo como ponto de partida a proposição de Michel Foucault de que a literatura seria um locus de transgressão, onde os limites da linguagem são postos em xeque. No livro póstumo Comment j’ai écrit certains de mes livres (1935), Raymond Roussel apresentou seu procedimento de escritura, que deu origem aos romances Impressions d’Afrique (1910) e Locus Solus (1914). O procedimento envolve o uso da sinonímia e da homofonia, a decomposição de termos e a suspensão do significado, tendo como resultado uma literatura que busca especificamente tornar as palavras “desenhos de rébus”. O método de escrita de Roussel nos dá ensejo a pensar as relações traçadas pela psicanálise entre palavra e coisa, de um lado, e linguagem, inconsciente e memória, de outro. Sua frase, “em mim, a imaginação é tudo se contrapõe à chamada “psicobiografia”. possibilitando uma reflexão sobre o encontro entre arte e psicanálise. Ao final deste trabalho, percebe-se que a obra de Raymond Roussel permanece enigmática tal como o umbigo do sonho resiste à interpretação. Seu procedimento de criação insiste na quebra e destruição do sentido, na impossibilidade de ligação. Confrontada com o tal texto, a psicanálise não procura um sentido fixo, que desvende a obra, mas a produção de novas palavras que venham estranhar o texto – e a própria psicanálise.
Palavras-chave: Literatura, Psicanálise, Raymond Roussel, Linguagem