Autor(a)

JULIANA DUARTE ARRAES

Instituição

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Data

2020

Este estudo apresenta e traz reflexões sobre o movimento de (re)construção metodológica do atendimento socioeducativo feito com adolescentes e jovens em cumprimento das medidas de prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida na Unidade de Atendimento em Meio Aberto (UAMA) do Paranoá. Para tanto, realizou-se entre 2016 e 2018 uma pesquisa etnográfica de natureza interpretativa crítica, por meio de observação participante e entrevistas semiestruturadas, além de revisão bibliográfica. Para a análise dos dados obtidos, a categoria utilizada foi a práxis, segundo a qual o trabalho (ação humana) é determinado pelo contexto material, histórico e cultural em que é realizado, ao mesmo tempo que também o modifica, em uma relação dialética entre indivíduo e sociedade e subjetividade e objetividade. No caso do Sistema Socioeducativo do DF, esse contexto expressa um conjunto de contradições inerentes às “questões” sociais, raciais e criminais, relacionadas entre si e próprias das relações de produção do estado capitalista. Tais questões, na verdade, que estão na gênese da política pública da socioeducação no Brasil, atravessaram o último século e fazem parte das instituições que a operam. Essas, por sua vez, são marcadas hegemonicamente por culturas e práticas que impõem ao cotidiano das(os) profissionais a racionalização de processos de trabalho que tende a naturalizar as contradições das “questões” sociais, raciais e criminais por meio da burocracia. É, então, pela práxis que enfrentamentos a esses contextos contraditórios e burocráticos são possíveis. Isso exige, no caso das(os)   trabalhadoras(es)  da  política socioeducativa, uma compreensão reflexiva, teórica e crítica sobre a realidade, a fim de orientar novas práticas. E também lhes gera, por consequência, novos processos de subjetivação. Assim, durante a pesquisa, coloquei em diálogo as observações que fiz e as reflexões das(os) participantes sobre suas práticas na UAMA-Paranoá, com elementos estruturantes do contexto histórico, material e cultural do cotidiano de trabalho em que estavam inseridas(os). Como consequência, compreendeu-se que a (re)construção metodológica que realizavam estava implicada num movimento contra-hegemônico e propositivo que se optou por chamar de práxis do fazer socioeducativo. Esse movimento partiu da mudança da cultura de atendimento dispensada aos(às) adolescentes, jovens e famílias, mas foi além e apontou para possibilidades de enfrentamento à cultura punitivista e desumanizante do Sistema Socioeducativo, herança do sistema penal que, em especial para as medidas de meio aberto, pode ser verificada pela burocratização das relações humanas.

Palavras-chave: Práxis. Trabalho burocrático. Fazer socioeducativo. Metodologia de atendimento socioeducativo.